quarta-feira, 31 de março de 2010

O chefe só promove seus favoritos. O que fazer?


O presidente da companhia na qual trabalho foi demitido. Ele era o meu mentor e me promoveu rapidamente até um posto sênior. O novo chefe, que o substituiu, já trabalhou comigo em outra empresa há muito tempo. Ele é político e protege os seus favoritos. Tivemos pequenas discussões no passado e temo que ele me ignore por esta razão. Meu emprego está claramente vulnerável. Não quero sair, pois gosto do meu trabalho, da cultura da empresa e do salário. Como posso convencê-lo a me manter no emprego? Sei que apenas fazendo um bom trabalho não vou conseguir, porque ele não valoriza o que eu faço. Também não acredito que bajular ajude nesse caso.

Resposta:

A situação descrita é relativamente comum na vida corporativa. Principalmente no Brasil, o personalismo é uma forte característica da cultura nacional. Frequentemente, relações baseadas em lealdade pessoal são utilizadas como critério para promoção e ascensão profissional em detrimento à meritocracia, que enxerga a competência de cada indivíduo. Esta prática é uma grande fraqueza na nossa cultura. Representa um custo de transação do ambiente corporativo brasileiro, pelo padrão de comportamento que se estabeleceu aqui. Portanto, deve ser evitado por meio da aplicação eficiente de mecanismos de governança.

A melhor forma de se manter no emprego para as pessoas que enfrentam uma situação desse tipo é se fazer necessário e mostrar a que veio ao mundo. Isso não implica absolutamente em bajulação. Neste ou em qualquer outro caso isso seria um grande equívoco, pois depõe contra a capacidade de um indivíduo se posicionar por sua competência. Os que bajulam e fazem disso a sua segurança sempre existirão, e assim o fazem porque não possuem o que entregar. Aprenderam a se manter no jogo desta forma. No entanto, passam a ser percebidos como pessoas fracas. Ainda que tenham alguma qualidade, com o tempo ela será ofuscada. Por vezes conseguem se safar muito bem, pois satisfazem o ego daqueles que detém o poder temporariamente, mas criam assim uma relação de dependência permanente com seus aliados. Quando pessoas decidem investir muito do seu tempo e energia em relações políticas baseadas em lealdade pessoal plantam em terreno duvidoso.

A melhor saída agora é agir de forma ética e transparente. A perda do "mentor" gerou a perda também da perspectiva de carreira e a fragilidade na nova relação. Uma pessoa ética, que age baseada em valores, preocupa-se em construir a sua competência pessoal e não em criar dependências. Ainda que possa perder o seu emprego, é reconhecida por sua capacidade de entrega. No longo prazo ganha mais, pois uma habilidade reconhecida é sempre demandada e gera boa reputação. Procurar o equilíbrio entre o que é desejável e o que é possível é uma arte na gestão da própria carreira. Há que se avaliar o custo para a vida pessoal versus o custo de construção de reputação e mérito na organização. A pessoa que age baseada em valores reconhece a imperfeição e a fragilidade da vida corporativa, mantendo a autoconfiança e a disciplina.

É tempo de investir na construção de suas competências e agir com mais cautela nas relações pessoais, mas sem se esquecer de que, na gestão da própria carreira, nenhuma força é maior do que a força moral.

Marco Túlio Zanini é professor de gestão de ativos intangíveis e estratégia de pessoas da Fundação Dom Cabral

Fonte: Jornal Valor Econômico

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