segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Diário de Bordo - Parte 1 - 05 e 06 de julho

BUROCRACIA NA CHEGADA AO NAVIO

Veneza -Italia, 05 de julho de 2008 (sábado)

Dia 2 – Após uma noite mal dormida, para o meu corpo o fuso horário estava no Brasil, 5 horas atrás segui para um farto café da manhã, no lobby aguardando o transfer até o Cais do Porto com os outros tripulantes eu me sentia meio anestesiada e imaginava que no navio seriamos recebidos rapidamente e começaríamos o trabalho apenas no dia seguinte. Doce ilusão! Seguimos em uma van eu, mais três brasileiros, quatro filipinos, um argentino, um italiano e um polonês. Apenas eu e o italiano, éramos literalmente marinheiros de primeira viagem, por acaso também íamos trabalhar no mesmo setor. O argentino era engenheiro, o polonês não conversou, nem se apresentou, os filipinos e os brasileiros ajudantes de cozinha e garçons, e este foi o grupo que reclamou durante todo o trajeto ter que voltar ao trabalho, não gostavam de suas funções, reclamaram das acomodações e da comida do navio e debocharam de nós já que nossas funções no navio equivaliam a um uniforme com duas listras e o deles sem listra nenhuma restringia muito seu acesso aos eventos no navio, o que gerava um pouco de rivalidade entre setores.

Tentei ignorar as reclamações, afinal minha jornada seria longa demais para me dar ao luxo de já entrar no navio com uma má impressão.

Era um dia quente, seco e nublado ficamos quase 1h em uma fila do lado de fora do navio checando documentos, respondendo perguntas, nossas malas foram examinadas com detectores de metal e um farejador de drogas e finalmente passaram pó um raio x e entramos, ufa. Finalmente dentro do navio mais perguntas, entrega de documentos, apresentações, assinatura de contratos, distribuição de chaves de cabines para todos, menos a minha, ainda não sabiam aonde eu ia ficar, foto para crachá, conversar com o médico e finalmente parada para um cafezinho.
Socorro será que agora posso ir para qualquer cabine deitar e dormir por mais 5 horas?
Quase uma hora após a nossa chegada um gerente do setor veio nos receber para nos guiar até nosso departamento e nos mostrar o navio todo. Por mais uma hora subimos e descemos escadas, longos corredores, áreas internas com ar-condicionado, áreas externas em um calor sufocante, 11 andares, luzes, quadros, cores, que confusão, por favor, eu precisava sentar.
Pouco antes do almoço conheci meu chefe, o Diretor de Entretenimentos, e a pessoa a quem eu iria substituir, voltamos à primeira sala que visitamos no navio para o primeiro dia de treinamento. Seriam mais 13 dias longos dias de treinamentos com duração de 2h a 3h30, cansativos, porém necessários.

Depois de quase brigar com o escritório da administração eu e a atual administradora de entretenimentos, função que eu ocupar, conseguimos finalmente a chave da minha moradia para aquela semana, descobri que minha companheira, era uma brasileira que trabalhava na recepção, fiquei tão feliz em encontrar uma cabine limpa e organizada. Além disto a cabine tinha uma janela, a maioria delas não tem, além de se sentir morando em uma caixa você não consegue saber quando é noite ou dia.

Antes da partida do navio participei de um treinamento de emergência para os hóspedes sem entender o que eu estva fazendo ali, banho, jantar e algumas horas de trabalho no escritório. Em torno de 21h fui dormir, eu não estava me agüentando mais em pé e o treinamento no dia seguinte começava às 8h da manhã.
Navegando, 06 de julho de 2008 (domingo)
Dia 3 – Novo dia, mais uma noite mal dormida e acordei com um mal estar terrível, completamente congestionada.
O treinamento terminou antes do previsto, depois de me perder pelos corredores de serviço que são completamente iguais encontrei a administradora de entretenimentos no departamento. Neste dia ela me contou que me treinaria nos próximos 5 dias e em seguida partiria de férias, eu tinha centenas de informações para aprender neste curto prazo. Decidi não ficar tensa, se a empresa decidiu colocar alguém nesta função sem experiência e sem ter alguém para acompanhar também deveria ter paciência com meus possíveis erros, no final é Deus quem tem o controle de tudo. Anotava tudo com muita atenção e não parava de fazer perguntas, o dia estava lindo lá fora e os hóspedes circulavam de um lado para o outro agitados, eu não me sentia bem e já comecei o dia tomando um remédio para gripe. Este primeiro dia era o da noite formal e às 18h você tem que estar de uniforme formal ou de vestido longo para as mulheres e smokings para os homens.

Tudo era esquisito, voltar para o escritório de vestido longo para ficar em frente do computador, mas esta era a rotina e deveria ser seguida. Vi o capitão se apresentar nas escadarias do centro do navio junto com sua equipe de oficiais ele cumprimentava os passageiros citando o número de passageiros por nacionalidade. Eles somavam quase duas mil pessoas, sendo o maior grupo proveniente da Inglaterra, os brasileiros somavam um total de 42 passageiros. Em seguida fomos a um show e depois a turma d entretenimento ia para a danceteria, ouvindo protestos fui dormir, me sentia fraca e pouco animada.
Na cabine telefonei minha mãe e para meu namorado, precisava conversar com eles para tentar dormir melhor.

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