quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Ultramaratonas


por André Analon Vazquez

As Ultramaratonas assim como as maratonas, remetem à antiga Grécia, onde mensageiros especialmente treinados, chamados Hemerodromoi, cobriam rotineiramente distâncias impressionantes para os padrões atuais. Plutarco, por exemplo menciona um desses mensageiros, que não apenas correu quase 500 km, mas também carregou uma tocha acesa durante a maior parte do caminho (FIXX,1980).


NOAKES (1991) relata que mensageiros a pé eram usados tanto na Grécia quanto no Império Romano para levar correspondências, e que corriam até 100 km de cada vez. Ele também comenta sobre uma corrida de 237 km que teria ocorrido no Circus Maximus em Roma no auge do Império Romano. As primeiras referências Britânicas dos mensageiros pedestres data de 1040 AC; as primeiras referências Européias e Turcas datam do século XV. Por volta do final do século XVIII, melhorias nas condições das estradas, particularmente na Grã-Bretanha tornou desnecessário o uso desses mensageiros. Desta forma esses mensageiros passaram a ser utilizados para competições, que em meados do século XVIII tornaram-se profissionais (NOAKES,1991).


Nos tempos modernos, as primeiras façanhas em pedestrianismo, dão conta de que o britânico Capitão Barclay, em 1806, percorreu 160 km em 19 horas. No ano seguinte ele correu 1 milha em cada hora, durante 1.000 horas (41 dias e 16 horas), recebendo de prêmio 16.000 libras esterlinas (NOAKES,1991). Outro pioneiro desse tipo de competição foi o americano Edward Payson Weston, que em 1861, correu a distância de 713 km que separam as cidades de Boston e Washington-DC, para assistir a solenidade de posse do Presidente Lincoln. Em 1867 ele percorreu 2.135 km entre Portland e Maine, e em seguida estabeleceu como sua próxima meta, ultrapassar os 800 km em 6 dias ou 144 horas. Ele conseguiu seu objetivo na terceira tentativa, recebendo pelo feito um relógio de ouro e o título de Campeão Pedestre do Mundo (NOAKES,1991).


No ano seguinte Weston foi desafiado e vencido por Daniel O’Leary, que correu 800,4 km contra 720 km do desafiado. Os dois corredores continuaram dominando o cenário até que em 1877 foi oficializado o Campeonato Mundial de Pedestrianismo, e instituído o Cinturão de Ouro Astley para o campeão. Interessante que não era disputado apenas uma vez ao ano, como costuma acontecer nos dias atuais, mas chegava a ser disputado 3 vezes no mesmo ano. Essas disputas movimentavam valores altíssimos, pois existia uma bolsa de apostas, a exemplo do que ocorre no Boxe. Reporta-se que Daniel O’Leary patrocinou uma dessas provas no Madison Square Garden, lucrando perto de US$ 60.000,00 (NOAKES,1991). No início do século XX essas provas perderam popularidade e praticamente foram descontinuadas até os anos 70, desta vez, porém com um objetivo mais amador e de amor puro pelo desafio, ao contrário do século anterior.


Nos dias atuais existe no mundo todo, especialmente na Europa e Estados Unidos, cerca de 1000 corridas de Ultramaratona, das mais variadas distâncias e nos mais variados tipos de terrenos, porém não mais premiam da forma que o faziam no século passado. No Brasil tem-se registro oficial apenas de três corridas de ultra longa distância:


A primeira foi a I ULTRAMARATONA INTERNACIONAL DE 24 HORAS MEMORIAL-WEMBLEY em SANTOS/SP, que aconteceu nos dias 10 e 11 de dezembro de 1994. Esta prova contou com a participação de 32 corredores, sendo 30 homens e 2 mulheres. Desse total, 11 eram estrangeiros (10 homens e uma mulher). Os vencedores foram Constantin Santalov que correu 238 km e Maria Teresa Rodrigues que correu 182 km.


A segunda prova foi uma Ultramaratona beneficente de 24 e 48 horas acontecendo simultaneamente, na pista de Atletismo da Unisinos em São Leopoldo/RS, nos dias 01,02 e 3 de maio de 1998. Esta prova contou com a participação de 33 atletas, sendo 25 homens e 8 mulheres. Os vencedores foram Sergio Cordeiro e Eliana Alves Fernandes que correram 182,450 km e 132,810 km respectivamente nas 24 Horas e Jorge Alejandro Quiteros e Graziela Inês Pence que correram 273,500 km e 181,690 km respectivamente nas 48 horas.


A terceira prova foi o I CAMPEONATO BRASILEIRO DE 24 HORAS EM PISTA, que aconteceu na pista do Conjunto Esportivo Constâncio Vaz Guimarães em São Paulo/SP, nos dias 4 e 5 de setembro de 1999. Esta prova contou com a participação de 66 corredores, todos brasileiros, sendo 59 homens e 7 mulheres. Os vencedores foram Luciano Prado dos Santos com 238,490 km e Maria Domiciano Gomes com 165,837 km.


Além dessas provas destaca-se a prova VOLTA À ILHA DE FLORIANÓPOLIS, uma Ultramaratona de 155 km. Em resumo, esta modalidade de corrida está em absoluta e franca expansão, tanto no Brasil quanto no exterior. O atletismo possui diversas provas de corridas. Entre as mais antigas está a Ultramaratona, ou corrida de longa distância. De acordo com SCHUBERT (1992), as primeiras competições datam de 1500 AC no norte da Grã Bretanha.


Tecnicamente, Ultramaratona é qualquer corrida pedestre com distância superior à distância da maratona, ou seja, 42,195 km. As provas oficializadas internacionalmente vão de 50 km a 1.300 milhas, e duram de 6 a 144 horas. Apesar de pouco divulgada, conhecida e praticada no Brasil, é muito difundida e praticada no exterior. Na Europa, corridas de 100 km chegam a ter milhares de participantes; na Austrália e Nova Zelândia são mais populares as provas de multi-dias, enquanto na África do Sul, as chamadas Ultramaratonas curtas, entre 50 km e 100 km, são mais populares que maratonas ou corridas de 10 km, e chegam a ter mais de 14.000 participantes (SCHUBERT, 1992).


Na segunda metade do século passado, nos Estados Unidos e Europa, Ultramaratona era um dos mais populares e lucrativos esportes. SCHUBERT (1992), relatou que corridas de 6 dias levavam multidões de espectadores ao Madison Square Garden, pagando seu ingresso para assistir as corridas, e que Charles Rowell da Inglaterra recebeu US$ 34.000 de prêmio ao vencer uma prova em 1888. No Brasil as primeiras Ultramaratonas de 100 km que se têm notícia, aconteceram nos anos 80 em Uberaba, depois no início dos anos 90 em São Paulo e no final dos anos 90 em Santos. Houve uma ultra de 24 horas em 1994 em Santos e outra de 24/48 horas em São Leopoldo em 1998. Este ano houve em São Paulo o I CAMPEONATO BRASILEIRO DE ULTRAMARATONA DE 24 HORAS. Apesar de no Brasil, essas corridas serem pouco conhecidas e divulgadas, até mesmo entre os corredores de fundo e de maratona, o pais conta com atletas de nível internacional, com expressivas marcas.


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