Quatro empresas contam como encaram esse desafio
Gerir pessoas não é uma atividade simples. Muito menos em grandes organizações. Imagine o quanto é complexo transmitir os valores, manter o mesmo pacote de benefícios e “falar” ao mesmo tempo com um time espalhado por 200 cidades? E estimular os funcionários a ter cabeça de dono? Uma trabalheira! Mais ainda quando se exige deles o compromisso com a produtividade para que se sintam responsáveis, na ponta, por um faturamento de milhões ou bilhões de reais. Para algumas companhias essa é uma encrenca daquelas. Mas as grandes empresas do Guia lidam bem com isso. Mesmo tendo de encarar outra variável que ajuda a tornar o ambiente complexo: a alta qualificação de seus profissionais. Como as organizações do Guia conseguem encarar esse desafio e superá-lo? O segredo está na parceria entre o presidente da empresa e a equipe de recursos humanos. “Empresas complexas costumam ter um dirigente de RH com maior peso político,que tem experiências em outras áreas da empresa,entende do negócio e se destaca entre os pares”, diz Joel Dutra,um dos coordenadores da metodologia usada no Guia.“Já o presidente se mantém próximo ao RH porque a gestão de pessoas passa a ser crítica para o sucesso do negócio nas organizações maiores.”Uma união que dá resultado em companhias como:
Bradesco - Por que ela é complexa – No Bradesco, trabalham mais de 63 000 pessoas espalhadas por 1 657 lugares.
Como lida com a complexidade – Pode parecer impossível gerir tanta gente assim, mas o banco dá conta. Como explica Milton Matsumoto, diretor-executivo do Bradesco: “O banco sempre tratou o quadro de funcionários com muita transparência”. A concessão de benefícios é igual para todos, assim como os treinamentos. O plano de saúde também é o mesmo. O valor do vale-alimentação é igual para quem trabalha em São Paulo ou no interior de qualquer estado brasileiro. Assim como o curso para treinar quem é caixa: é o mesmo em todo o país. Desse batalhão de gente, o maior grupo (30%) é composto por pessoas que têm de 36 a 45 anos de idade. Dos mais de 63 000 colaboradores, 72% têm ensino superior completo ou incompleto e 8% têm pós. Muita gente trabalha ali há mais de dez anos — 30% do pessoal tem de dez a 20 anos de casa. Os colaboradores mais jovens dão mais importância ao desenvolvimento, enquanto os mais velhos se identificam mais com a empresa.
Braskem - Por que ela é complexa – A Braskem, fabricante de resinas termoplásticas que servem de matéria-prima para a fabricação de produtos plásticos, faturou 15 bilhões de reais no ano passado.
Com mais de 3 500 colaboradores espalhados pelo Brasil, a petroquímica paga de participação nos lucros de 4,5 salários — para o nível operacional — a 22 salários — para diretoria e vice-presidência. O valor é calculado de acordo com o resultado geral da empresa, com o resultado da unidade de negócios onde a pessoa trabalha e de acordo com suas metas particulares.
Como lida com a complexidade – Na Braskem, cada gestor se responsabiliza por sua equipe, desde o trabalho executado no dia-a-dia até o treinamento. A preparação de sucessores também cabe a ele. Graças a essa descentralizacão, segundo Enio Silva, diretor de pessoas e organização da empresa, a Braskem é uma empresa grande com a agilidade de uma pequena. “A coisa mais importante na nossa cultura é a confiança nas pessoas”, diz o presidente José Carlos Grubisich.
Accenture - Por que ela é complexa – Das cerca de 5 500 pessoas que trabalham na Accenture, 99% têm curso superior completo.
E dessas, 42% têm pós-graduação. Apesar de ter poucos escritórios (Rio, São Paulo, Barueri — na Grande São Paulo —,Vitória, Brasília, Curitiba e Belo Horizonte), seu pessoal está espalhado. Isso porque na consultoria especializada em gestão, tecnologia e terceirização quase 3 000 pessoas estão alocadas em algum dos cerca de 200 clientes. No ano passado, o faturamento mundial da Accenture foi de 16 bilhões de dólares.
Como lida com a complexidade – Se o fato de ter tanta gente com um alto nível de escolaridade poderia ser um problema numa empresa, na Accenture é a solução. “O alto nível de escolaridade faz parte do perfil típico do nosso profissional. E funciona como elemento relevante para criar soluções para o cliente”, diz Lauro Chacon, diretor de RH. Ele explica que na empresa as pessoas são convidadas a participar de discussões de temas relevantes. “Não subestimamos o pessoal. A comunicação é clara, aberta e transparente”, afirma. A estratégia da consultoria para lidar com o pessoal não fica só na comunicação, envolve também treinamento. Uma ferramenta usada é o My Learning. Ela disponibiliza cursos comportamentais e técnicos. Cada colaborador escolhe o que vai fazer. Outro diferencial na Accenture é o desenvolvimento profissional: 30% do pessoal é promovido todo ano.
Magazine Luiza - Por que ela é complexa – A rede de varejo Magazine Luiza está espalhada por mais de 290 cidades.
Em agosto, eram 10 300 colaboradores — o número aumenta constantemente — espalhados por sete estados.A rede tem 363 lojas, seis centros de distribuição e um escritório central.
Como lida com a complexidade – “Buscamos implementar políticas de RH igualitárias”, diz Telma Geron, diretora de RH. Isso significa oferecer o mesmo plano de saúde e auxílio-creche para todos os funcionários, sem diferença por localidade.Telma explica que a empresa se esforça ainda para que todos saibam de tudo o que acontece nas lojas em até 24 horas. Isso contribui para que as pessoas se sintam parte de um todo. A comunicação ocorre via intranet. Além disso, toda semana, o pessoal assiste à TV Luiza, que leva ao ar um programa ao vivo, com cerca de 40 minutos. Ele é assistido antes de as lojas abrirem. A empresa criou também a Rádio Luiza, que tem uma programação sob medida e vai ao ar todos os dias nas lojas, nos centros de distribuição, no escritório central e na espera telefônica. Tem ainda o disque-denúncia, que funciona por e-mail ou telefone. “Estamos todos alinhados. Estamos descentralizados, mas andamos com um corpo único”, explica Telma. Todo esse esforço para haver transparência. “Aqui, qualquer pessoa pode falar com qualquer pessoa”, diz Luiza Helena Trajano, presidente da rede. “O jogo é aberto, olho no olho. E disso todo mundo gosta.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Faça seus comentários sobre a matéria.