sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

Crise = Oportunidade -Chance de descobertas


Sempre é possível descobrir caminhos promissores mesmo que eles estejam escondidos em momentos desfavoráveis. Isso é o que diz a milenar sabedoria chinesa, em que crise e oportunidade se complementam na mesma palavra, formada pelos dois ideogramas.

Texto: Wilson F. D. Weigl

Assim como o diamante está contido na pedra bruta, em certos momentos a vida nos propõe superar obstáculos até encontrar algo precioso. A empresária Leila Matheus, de Campinas, São Paulo, era recém-formada, estava sem emprego, casada e com uma filha de colo. Ficava em casa roendo as unhas, dominada pela ansiedade, pois não podia ajudar o marido a sustentar a casa. E nada de trabalho. "Quando vi uma reportagem na TV sobre unhas de porcelana, achei que era a solução para parar de roê-las. Liguei na mesma hora para a produção do programa e peguei o telefone do salão, que ficava em São Paulo, e fui até lá", conta Leila.

De volta a Campinas, ela teve um estalo: poderia aprender a confeccionar essas mesmas unhas. "Dias depois, comecei o curso e uma nova etapa muito próspera. Com muita dedicação e força de vontade, montei o salão. E hoje, 12 anos depois, posso dizer que venci. Além dos tratamentos para unhas, serviço em que me tornei a número um, incluo os de cabeleireiro, podólogo, estética facial e depilação", conta a empresária.Histórias como a de Leila atestam que é justamente nos momentos de crise, aperto financeiro e falta de perspectiva que se deve estar atento ao que realmente nos estimula e às saídas que a vida nos mostra. Às vezes, elas ficam ocultas pela inércia, pela desesperança ou pelo medo. "Numa época desfavorável, temos a chance de escolher: ou renascemos da crise ou nos afundamos nela", diz Amalia Sina, executiva, professora universitária e escritora, de São Paulo.

Chance de autodescoberta - Um antigo ditado diz: "Se a vida der a você um limão, faça dele uma limonada". Mesmo quando a oferta de trabalho e o saldo bancário diminuem, não fique tentando justificar a situação apenas com fatores externos, como a conjuntura, a falta de sorte, o pouco espírito de colaboração dos outros. Isso você não pode resolver, mas pode sim tomar as rédeas do próprio destino. "A crise é uma porta para a autodescoberta. Somos forçados a buscar soluções, a rever posições, a arriscar e conquistar novos territórios. Não porque queremos, mas porque não existe outra possibilidade", afirma Amalia.

Em seu livro Crise e Oportunidade – Em Chinês e Nos Negócios Essas Duas Palavras São Uma Só (ed. Saraiva), a executiva ressalta que, na língua chinesa, a mesma letra (chamada ideograma) expressa essas duas situações, que, para os ocidentais, parecem antagônicas. "A pressão emocional dispara dentro de nós o instinto natural de lutar para vencer. Nas adversidades, desenvolvemos a força interior, responsável por nossas vitórias. Sem crise, a vida seria como o mar sem as ondas", frisa Amalia.
Momentos difíceis são propícios para desenvolver talentos adormecidos e investigar possíveis áreas de atuação a curto ou longo prazo. "Todos nós somos donos de vários talentos", continua a executiva Amalia Sina. "Quando estamos disponíveis, podemos testar habilidades, o que seria impossível se estivéssemos trabalhando. A hora do desemprego pode ser o momento, por exemplo, de concretizar um antigo sonho ou mesmo se aventurar em áreas inusitadas."
Olhos no futuro - É bom ter em mente que hoje a faculdade é apenas o ponto de partida para o sucesso profissional e não a garantia de vencer na vida como no tempo de nossos pais. Um em cada quatro brasileiros formados no ensino superior, nos últimos dez anos, não está empregado ou trabalha em funções abaixo de sua qualificação, como revelou um recente estudo da Secretaria do Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade do município de São Paulo. O emprego tradicional, com carteira assinada e salário depositado todo fim de mês, está mais raro e essa tendência deve se acentuar, já que as empresas estão cada vez mais enxutas e empregando os serviços terceirizados.
"Seguro está apenas quem confia nas próprias capacidades e busca o aperfeiçoamento constante. Nenhum emprego fixo é certeza de estabilidade, pois o mercado é complexo, instável e está em constante mutação", lembra Eline Kullock, presidente do grupo Foco de Recursos Humanos, empresa especializada em colocação profissional, de São Paulo. "Precisamos ser cada vez mais empreendedores e donos do próprio nariz."

Sua bagagem - De todo conhecimento que se adquire, nada fica perdido. O cearense Francisco Antonio Nilber Santiago Barroso, por exemplo, usou toda a bagagem profissional construída em anos de trabalho no mercado financeiro, em Fortaleza, para fazer deslanchar a pousada que sua mãe tinha em sua cidade natal, Canindé. "Resolvi aderir ao programa de demissões voluntárias do banco, montei uma locadora de vídeo com o dinheiro da indenização, mas o negócio só durou nove meses", conta Nilber. "Depois, tentei a área de contabilidade, mas não me adaptei à burocracia."
Na mesma época, ainda enfrentou uma crise emocional que culminou com o fim do casamento, mas não esmoreceu. Novamente em Canindé, na casa da mãe, Nilber aplicou na pousada sua experiência em administração de empresas e ciências contábeis. "Expandimos muito, o negócio deu certo e ainda há mais pela frente."

Foco positivo - Boa parte das chances de sucesso se apóia no otimismo e na forma de olhar as crises. "Metade do caminho está percorrida se mantivermos o foco positivo na resolução dos problemas e no aprendizado que está embutido na experiência ruim, como a cultura oriental, especialmente a chinesa, ensina há milênios", lembra Amalia Sina.
Outro cuidado é nunca esquecer de suas muitas qualidades e não deixar que a auto-estima fique abalada pelas dificuldades financeiras. Segundo a executiva, o trabalho contribui para a realização e a sensação de sermos úteis à sociedade, mas não deve ser a única fonte de afirmação de nosso valor pessoal. "Precisamos saber perder, saber ganhar e, acima de tudo, distinguir as duas coisas. E não há nada de mal em ficar duas jogadas sem jogar", diz. "Pode-se ter a impressão de estar retrocedendo, perdendo o pé, mas muitas vezes esse é um estágio necessário para tomar fôlego e ir em frente. Volta-se um passo atrás para depois saltar dois à frente", finaliza Amalia.
A chance vem de onde você menos espera - As oportunidades que surgem são fruto de nosso empenho, talento, motivação e capacidade de agir e ir à luta? Sim, sem dúvida. Mas vale também dar crédito à sorte, que nos coloca no lugar certo, na hora certa, junto às pessoas certas. "As oportunidades aparecem em nossa vida como coincidências, que se apresentam de forma simples. Por exemplo, podemos de repente conhecer alguém que nos dê uma chance que nunca pensamos ser possível. Ou encontrar numa reunião alguém que pode representar muito para nossa carreira", diz o economista e professor americano Tom Monte no livro Determine a Sua Própria Sorte (ed. Cultrix).
Para Monte, essas coincidências afortunadas não são apenas um mero fruto do acaso: "A rede da vida parece ter uma memória longa e um alcance ainda mais longo e traz a nós a sorte, dependendo das sementes que plantamos".
"Em outras palavras, faça muitos amigos ao longo do caminho. Parece básico, mas inúmeras pessoas esquecem isso por causa da competição", conclui o economista.
Cinco passos para atrair o sucesso - Olhar atento, mente aberta, planejamento e estratégia são requisitos fundamentais para atrair boas e rentáveis oportunidades. Eline Kullock e Leyla Galetto, respectivamente presidente e diretora técnica do grupo Foco de Recursos Humanos, de São Paulo, destacam atitudes para perceber novos caminhos.

1 – Lembre-se: o trabalho é apenas uma entre as várias áreas da vida. Você certamente tem motivos, mesmo que pareçam triviais, para comemorar em outros setores: saúde, família, afetos. Isso eleva sua auto-estima e não deixa que as dificuldades passageiras afetem seus relacionamentos.

2 – Valorize suas conquistas e não superdimensione os obstáculos. Olhe para tudo de positivo que conseguiu e tenha em mente que o desemprego ou a falta de dinheiro são fases.

3 – Busque sempre o aperfeiçoamento profissional. Um bom caminho é freqüentar cursos e seminários. Diversos órgãos e escolas oferecem programas gratuitos em todo o Brasil. Informe-se:
Sesc: www.sescsp.com.br; www.sescrj.com.br
Senai: www.sp.senai.br; www.rj.senai.br; www.df.senai.br; www.pr.senai.br

4 – Converse com gente que atua na área. Além da possibilidade de fazer novos e ricos contatos, trocar idéias com profissionais que trabalham nos setores de seu interesse ajuda a conhecer o que há de positivo e negativo no mercado. Às vezes, estamos simplesmente idealizando algo fora da realidade. Daí, é melhor mudar de rumo antes de investir tempo e energia.
5 – Investigue quais são seus talentos adormecidos. Comece fazendo uma lista de tudo em que você gostaria de trabalhar. Quem sabe você descobre um ou vários novos talentos, que podem levá-lo a uma nova área promissora?

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