quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Você é o profissional que as empresas querem?


O profissional que o mercado não quer



Um dos principais investimentos feitos pelas famílias brasileiras é o estudo dos filhos. Os pais, o próprio estudante e mesmo o país dedicam recursos financeiros e muito esforço para que os jovens consigam alcançar a formação universitária. No entanto, algumas falhas podem colocar em risco todo esse grande investimento.


Quando montei o programa da disciplina de Finanças Pessoais na Universidade Federal de Santa Catarina, conversei com headhunters (caçadores de talentos) e gestores de recursos humanos que selecionam trainees para grandes empresas. Segundo esses especialistas, a falta de princípios básicos de educação elimina muitos jovens talentosos da disputa pelas melhores vagas. Resolvi, então, incluir no programa um tópico que tratava destes princípios.


Passados seis anos, a disciplina está sendo atualizada, uma vez que finalizo um programa de pós-doutorado. Ao avaliar a necessidade de manter aquela aula adicional, voltei a conversar com profissionais de recrutamento e seleção. Para minha surpresa, mesmo as empresas consideradas mais informais seguem insatisfeitas com o cumprimento de algumas normas de educação por parte dos candidatos a novos funcionários.


:: Qualidades valorizadas


As empresas não se adaptaram aos costumes da chamada geração Y, que cresceu lidando com computadores e internet e foi educada nas informais famílias pós-Woodstock. Nessas casas em que os pais são tratados por “você” e outros adultos são chamados de “tio” ou “tia”, os jovens encontram dificuldade em tratar as pessoas com mais formalmente, como por “senhor” e “senhora”.


Mas o tratamento formal é um requisito em boa parte das companhias. É tão importante em relação ao futuro chefe quanto à senhora que serve o café. Abrir mão do tratamento atencioso e cordial ao se referir a outros funcionários e a subalternos é visto como sinal de profunda falta de educação. Caso o colega, cliente ou chefe não queira ser chamado pelo pronome de tratamento, certamente ele irá informar.


Os empregadores também valorizam a pontualidade. Na visão de quem contrata, o profissional que cumpre horário demonstra ter organização e responsabilidade. Esse cuidado indica que a pessoa tem consciência de que o tempo dos outros é tão importante quanto o dela mesma. Apesar de muita gente usar o subterfúgio de que atraso seria um traço cultural, quem tem como hábito perder a hora dos compromissos em geral acaba passando por mal-educado.


As expressões de polidez (como bom dia, com licença, por favor, me desculpe e muito obrigado) abrem muitas portas quando usadas de forma adequada e sincera. A formalidade também vale para o uso do idioma. O português formal é o mais adequado tanto na linguagem falada quanto na escrita. Um e-mail bem estruturado, sem erros de ortografia e que respeite o tratamento formal tem muito mais chances de ser respondido. Pouco adianta dominar idiomas estrangeiros quando se comete constantes tropeços na língua materna.


:: O que evitar


As redes sociais e as ferramentas de comunicação rápida criaram uma nova forma de escrita, repleta de gírias e abreviações. No mundo virtual, entre amigos, os erros de português são tolerados, os acentos e a pontuação viraram itens dispensáveis. Mas o mesmo não vale nas empresas. Mesmo currículos excelentes são excluídos quando contém erro de ortografia ou digitação – e sequer são abertos quando o e-mail de apresentação não prima pela formalidade.


Preconceitos de toda a ordem devem ser abandonados. Piadas e brincadeiras sexistas ou racistas são capazes de colocar em risco qualquer carreira promissora. O asseio pessoal e na área de trabalho também é fundamental. Mesas ou baias desorganizadas e sujas demonstram falta de cuidado. Objetos pessoais, quando permitidos, devem ser usados com parcimônia.


Quanto à aparência, os especialistas aconselham o uso de roupas sóbrias e discretas que combinem com o que vestem as outras pessoas do setor. Cada empresa adota um estilo, que costuma estar de acordo com o segmento econômico em que atua. Jovens funcionários que compreendem e seguem o estilo da companhia são bem-vistos pelos empregadores.


É importante ter cuidado ao criticar. Toda empresa tem erros – e paga os profissionais justamente para corrigi-los. Mas antes de apontar algum engano, é bom procurar entender porque ele existe. Melhor do que divulgar os erros é indicar soluções, resolvendo um problema após o outro.


Outro ponto que abrevia carreiras promissoras é a desorganização financeira. Pedir dinheiro emprestado para os colegas é uma atitude condenável. Em vez de atribuir a culpa das próprias mazelas financeiras ao baixo salário que você recebe, busque um emprego que lhe pague melhor. Pode ser que você não encontre – um sinal de que o valor em seu contracheque é mesmo o que o mercado oferece para um profissional da sua formação, com a sua experiência e seu perfil. Uma forma de elevar a quantia é ampliar a carga horária ou buscar se aprimorar em sua área, investindo ainda mais em estudos.


:: Organização financeira


Os pequenos cuidados indicados acima não garantem a conquista ou a manutenção de um bom emprego. Mas não cumprir esses requisitos certamente significa colocar em risco todos os esforços e os investimentos de anos e anos de formação.


Quando você estiver bem empregado, busque organizar suas finanças e adote um estilo de vida compatível com o que você recebe. Procure desde o primeiro salário reservar uma parte do que você ganha para um bom plano de aposentadoria.


Os empregadores costumam ter mais confiança nos funcionários que demonstram ter organização e foco no desenvolvimento de um sólido patrimônio pessoal. Afinal, quem cuida do próprio futuro provavelmente cuidará também do futuro da empresa.


Fonte: Jurandir Sell Macedo, CFPTM (Certified Financial PlannerTM). Profissional de Investimentos Certificado APIMEC. Doutor pela Universidade Federal de Santa Catarina com especialidade em Finanças. Professor Adjunto de Finanças Pessoais e Comportamentais da UFSC. Membro Orientador do Instituto Nacional de Investidores – INI. Jurandir é autor do livro "A árvore do dinheiro - guia para cultivar a sua independência financeira" Editora Campus 2007.E-mail: articulista@edufinanceira.org.br

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